sábado, 18 de julho de 2009

Todo Uno

A criação é algo que não se controla. Eu penso assim sobre música. De onde ela vem, como ela se forma? É um mistério. E ao mesmo tempo é algo essencial para mim. Faz parte de mim. É minha alma, meu espírito, minha razão de existir.
Sempre me interessei por música. Mas mais do que ouvir, sempre quis fazer, botar para fora. Estudei em colégios internos, longe da família, e quando se é pequeno ou no início da adolescência, a distância, a solidão, o silêncio pedem uma resposta da alma. Comecei a escrever, versos e coisas assim. Sempre associava o ritmo das palavras ao ritmo dos instrumentos.
Nunca estudei música da maneira tradicional (escola, professor). Para um carioca de Santa Teresa nascido em 1945 – para completar meu nome de RG é Wilson Moreira -, isso não é exatamente um obstáculo. Tomei gosto pra valer pela coisa, ouvindo o Waldemir. Ele também era autodidata no violão. Tocava Elvis Presley, Neil Sedaka, Beatles, um rock assim anos 60, mais melodioso, e muita bossa nova. Sou por assim dizer eclético, componho de tudo um pouco, mas gosto da mistura pop e da canção brasileira cadenciada, heranças da época do aprendizado.
Já compunha antes de tocar pra valer. Fazia as letras e as melodias, sem qualquer instrumento. Com 18 anos comprei um violão Gianini sem cordas. Quem me vendeu disse que eu não tinha vocação e que era desperdício e perda de tempo. Acho que aprendi para desmentir o vaticínio. Mexeu com os brios. Mas não foi fácil. Assistia a programas de televisão em que violonistas aparecessem. Ficava olhando os movimentos dos dedos e tentando copiar. Fui tomando jeito, me familiarizando com o instrumento.
Mesmo sem ser músico profissional, comecei a ser notado. Me procuravam para conhecer minhas composições. Uma delas, inclusive, foi gravada pela dupla pós-jovem guarda Fábio & Lucinha na década de 70. A música chamava-se “Capelinha” e saiu em vinil pela antiga Polygram. Os Black Cats também gravaram uma música minha. Sempre me considerei mais compositor do que instrumentista ou cantor. Continuei aprendendo a tocar violão, melhorando e melhorando. Só fui compor com instrumento de forma regular nos anos 90, quando virei Xina, por causa de um trailer que instalei junto com a Vera na entrada da PUC. Hoje se chama trailer da Tia Verinha, fazendo justiça à luz própria da minha companheira, parceira e musa inspiradora.
Nessa época passei a freqüentar rodinhas de música, uma delas na própria PUC. Conheci gente como o Felipe Belo, que hoje é engenheiro e está na Itália, o Paulinho, que cantava muito, o Paulo Du, grande instrumentista de formação jazzística, o Luís Carlinhos, vocalista da banda Dread Lion, o saudoso Tonho Gebara e o Maurício Baia. Com o Maurício, que hoje canta até no Japão e acabou de assinar com a Brazilian Music, minhas músicas saíram em três cds. A banda dele era Baia e Rockboys. Agora faz dupla com o Gabriel Moura, ex-Farofa Carioca. Os dois lançaram recentemente o cd Habeas Corpus, com uma composição minha em parceria, Autoramas urbanos. Também comecei a fazer algumas apresentações como cantor, embora esse não seja o meu forte. No ano passado participei do show do Besouro Zorah, no ginásio da PUC.
Com dezenas de composições no currículo, estava amadurecendo um cd que expressasse a minha visão artística de forma mais completa. Para isso foi fundamental ter conhecido o Igor Eça, que acabou se tornando minha maior influência musical. A força que ele deu ao meu trabalho, associada à qualidade de sua produção musical, me colocando junto a grandes músicos e me proporcionando toda a tranqüilidade para gravar, resultou no cd TodoUno (conceito grego de autoria do poeta e filósofo Xenófanes de Colofão que significa unidade e perfeição de Deus), que será lançado em breve. O disco foi um aprendizado em todos os sentidos. Desde a pré-produção e a pré-gravação, que foram inteiramente caseiras, por razões de custo, até a gravação nos estúdios Rock in House, do Rodrigo Coutinho Kuster, e Taturana. Só toquei com feras como o próprio Igor, ex-integrante da banda do Lenine, o Cacá Colon, que passou pela banda da Simone, o André Sachs,guitarrista e dono do Taturana, o Morango, grande gaitista, e o Marçalzinho, percussionista da estirpe do pai, sem esquecer o Cesinha Conti, o Canella e a Benita Michahelles. A todos meu muito obrigado pelo show.
Sou uma pessoa romântica e minha música reflete isso, mas procurei incorporar a regionalidade brasileira. Por isso o cd tem marcha-rancho, xote-reggae, rock e samba, entre outros gêneros. Gosto que as pessoas dancem, se divirtam, sonhem, sem esquecer a mensagem, o protesto, para que não dancemos no KO da História, ou seja, nossa política. É um disco feito com carinho, muito profissionalismo e dedicado ao público em geral.
Por enquanto é só. Mando mais notícias em breve, quando meu amigo o professor da Puc e pesquisador de cinema Hernani Heffner vier me dar mais uma força aqui nessas linhas. Por enquanto ouçam as músicas aqui no site da Taturana e fiquem com Deus.
Wilson Xina – julho de 2008

Disco do Xina!

produzido por Igor Eça e André Sachs
gravado nos estudios Rockhouse e studio.taturana.com
Engenheiro de Som : Rodrigo Kuster (Rockhouse) e André Sachs (studio.taturana.com)
mixado por André Sachs no studio.taturana.com
Musicos:
Wilson Xina - Vocais, Violão, Letras
Igor Eça - Baixo, Teclados, Arranjos de Base, violão, 12 cordas, guitarra Solo em "Bali"
André Sachs -Guitarra Solo, Efeitos, Arranjos de Sopro,Arranjo de Vocais, Vocais, Teclados em "Zen Paixão"
Cacá Colon - Bateria
Marçalzinho - Percussão
Benita Michahelles - Vocais
Canella - Flauta, Sax Soprano
Cesar Conti - Bateria em "Zen Paixão"
Morango - Gaita em "Terê"


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